Eduarda Lapa

Eduarda Lapa, de seu nome completo Maria Eduarda Lapa de Sousa Caldeira, nasceu em Trancoso em 1895. Juntamente com a família saiu da sua terra natal para fixar residência em Coimbra. Nesta cidade frequentou o Liceu José Falcão e o Colégio Português, onde a sua veia artística desabrochou, tendo deste modo, sido, revelado algumas qualidades que a distinguiriam mais tarde.
Munida de uma carta de recomendação do Dr. Joaquim Martins de Carvalho foi para o Porto, onde entrou para o atelier de Artur Loureiro.
Algum tempo depois, foi viver para a capital tornando-se discípula de Emília dos Santos Braga, com quem cultivou e trabalhou “a figura”. Esta professora, discípula de José Malhoa, tinha uma pintura naturalista, trabalhando também o retrato e a natureza-morta. Porém, foi o Professor Armando de Lucena que a introduziu no naturalismo, ao integrá-la nos estudos ao «ar livre» que ele orientava «em pleno esplendor vegetal dos maciços do Jardim da Estrela». Eduarda Lapa inclina-se deste modo para a natureza, captando com os seus pincéis, a luz e as suas variações cromáticas.
Trabalhando com o maior entusiasmo, realizou várias exposições individuais: a Exposição no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Trancoso (1917); a Exposição em Coimbra (1921) na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa (1923 e 1924); no Museu Grão Vasco, em Viseu (1924); na Escola Industrial e Comercial «Domingos Sequeira», em Leiria (1925); Exposição de Pintura de Eduarda Lapa «Propaganda de Portugal», em Lisboa (1925); no Salão de Festas do «O Primeiro de Janeiro», no Porto (1925), e no Salão do Teatro Nacional, em Lisboa (1927).
Em Agosto de 1928 embarca no Paquete Almanjara para o Rio de Janeiro, onde realizou uma exposição na Galeria Jorge.
A «Embaixatriz da Cor», como foi chamada pelos jornais do Rio de Janeiro, regressou a Portugal, continuando a dedicar-se à pintura.
Entretanto, em 1930, vai para Paris estudar e trabalhar em pintura. Naquela cidade, frequentou a Académie La Grande Chaumiére e Ranson, estudando especialmente o «croquis». Inscreveu-se, ainda na Académie Émile Rensard e Académie Moderne, onde foi a primeira portuguesa inscrita. Nesta última academia teve como mestres o crítico de arte e professor da Escola de Belas Artes, Henry Royer e outro professor, Jean Marchand, que constituiu para Eduarda Lapa um exemplo paternal devido a atenção que dava aos seus trabalhos.
Em Paris, conviveu com os melhores artistas entre os quais se contam a pintora brasileira Helena Pereira da Silva, Waldemar da Costa, o japonês Riokai, Arpad Szénes e Maria Helena Vieira da Silva, colega do atelier de pintura, em Lisboa.

Detentora de uma capacidade para revelar e demonstrar quer o ritmo, quer a harmonia das coisas, a pintora especializou-se em naturezas-mortas e principalmente em flores, sendo considerada, quer pelos colegas quer pelos críticos, uma das melhores neste género «a grande pintora de flores do nosso país».

Pintava quase todo o género de flores, desde camélias, goivos, anémonas, dálias, malmequeres, zínias, gladíolos, cravos a rosas dentro de uma jarra ou uma cesta.
Porém, Eduarda Lapa não se dedicou só às flores. A sua obra apresenta, também com êxito, paisagens rústicas, magníficas marinhas, em especial trechos ribeirinhos. A zona de Aveiro e da Praia da Areia Branca proporcionavam-lhe os motivos referentes às gentes do mar, como os pescadores ou os barcos moliceiros da ria de Aveiro, as praias da Torreira, da Costa Nova e da Nazaré. Captou também as feiras, os palheiros, as ruas e pátios, casas velhas, entre outros motivos.

Foi uma das pintoras mais apreciadas pela crítica da época, juntamente com Alda Machado Santos, a aguarelista Raquel Roque Gameiro, Maria de Lurdes Mello e Castro, Adelaide Lima Cruz e Clementina Carneiro de Moura.
Eduarda Lapa foi sócia efectiva da Sociedade Nacional de Belas Artes e foi a primeira mulher a fazer parte da Direcção desta Sociedade. Este facto revela uma faceta fundamental na personalidade da pintora: a sua profunda ligação ao movimento de afirmação das mulheres nos diferentes sectores da vida portuguesa. Também esta faceta se revelou quer na amizade que tinha por Maria Lamas, quer por ter organizado a Primeira Exposição Feminina de Artes Plásticas realizada em Portugal, em 1942. Deste modo, pode afirmar-se sem dúvida nenhuma que a pintora, pela sua autoridade profissional, abriu caminhos para a defesa da condição feminina.
Foi ainda uma das impulsionadoras da criação do então Museu Regional da Guarda, em 1940, ao qual doou algumas obras, para além de ter organizado a exposição de pintura com o qual o Museu abriu.
Durante mais de vinte e cinco anos, Eduarda Lapa orientou cursos de desenho e pintura, tendo como objectivo desenvolver as capacidades das suas alunas, despertando-as para o conhecimento da beleza, da forma e da cor.

  

Participou em diversas exposições colectivas realizadas, designadamente, na Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA) de Lisboa, n’ A Casa do Paço na Figueira da Foz, no Salão Bobone, no Salão do Teatro Nacional de Lisboa, na Galeria Jorge do Rio de Janeiro, na Sociedade de Belas Artes no Porto, na Faculdade de Letras de Coimbra, na Câmara Municipal do Porto, na Câmara Municipal de Lisboa, no Ministério da Educação no Brasil.
Fez-se também representar nas exposições de Lourenço Marques, Moçambique, na “Exposição de Pintura Metropolitana” (1951), em Sevilha na “Exposición Hispano-Portuguesa” (1952), na Holanda e na Bélgica.
Individualmente, participou em inúmeras exposições. No Porto, no Salão Silva Porto e no Salão Fantasia; em Lisboa, na Galeria Bobone, no Salão da Papelaria Progresso, no Salão de Festas d'O Século, na SNBA, no Museu João de Deus, na «Voz do Operário» e no Palácio Foz; em Coimbra, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Coimbra e no Salão «O Primeiro de Janeiro»; em Vila Franca de Xira, na Biblioteca/Museu Municipal.
Ao longo da sua vida, recebeu inúmeros prémios.
Pela Sociedade Nacional de Belas Artes foi distinguida com uma Menção Honrosa, em óleo (1930); com a 3ª Medalha, em óleo (1931); com a 2ª Medalha, em óleo (1935); com a 1ª Medalha, em pastel (1943); com a 1ª Medalha, em óleo (1944); com a Medalha de Honra, em pastel (1948), e com a Medalha de Honra, em óleo (1954).
Pela Câmara Municipal de Lisboa recebeu em 1942, na Exposição «A Imagem da Flor», a Medalha de Honra.

Eduarda Lapa recebeu, ainda, a Medalha de Ouro atribuída pelo Salão do Estoril e foi agraciada, em 1950, pelo Presidente da República com o Grau Oficial da Ordem Militar de Santiago de Espada.
A sua obra encontra-se representada em quatro Câmaras Municipais (Coimbra, Matosinhos, Porto e Trancoso), em diversos museus, entre os quais se contam o Museu José Malhoa nas Caldas da Rainha, no Museu de Arte Contemporânea, em Lisboa, no Museu Soares dos Reis, no Porto e no Museu Grão Vasco, em Viseu. Também está representada em outras instituições de arte como a Fundação Calouste Gulbenkian ou a Academia das Ciências de Lisboa.

A sua obra está igualmente representada em colecções estrangeiras, onde se destaca os seguintes países: Moçambique, Bélgica, Brasil, Holanda, França e África do Sul.

Eduarda Lapa faleceu no dia 9 de Setembro de 1976, na sua residência, na Rua Capitão Renato Baptista em Lisboa, onde foi descerrada, pela Câmara Municipal de Lisboa, uma lápide no prédio, onde a pintora viveu e faleceu. Deixou uma obra original que lhe granjeou inúmeros admiradores.

A Câmara Municipal de Lisboa atribuiu o seu nome a uma rua na Freguesia de Marvila, juntamente com outros nomes de pintores, como Mário Botas, Luís Dourdil e Artur Bual.